quarta-feira, 22 de julho de 2015

FREIRE


“Só aprende aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas”. (Paulo Freire).

terça-feira, 21 de julho de 2015

O MENINO NEGRO NÃO ENTROU NA RODA



O MENINO NEGRO NÃO ENTROU NA RODA



O menino negro não entrou na roda


das crianças brancas -- as crianças brancas


que brincavam todas numa roda viva




de canções festivas, gargalhadas francas... 




O menino negro não entrou na roda.



E chegou o vento junto das crianças


-- e bailou com elas e cantou com elas


as canções e danças das suaves brisas,


as canções e danças das brutais procelas.





E o menino negro não entrou na roda.



Pássaros, em bando, voaram chilreando


sobre as cabecinhas lindas dos meninos


e pousaram todos em redor. Por fim,


bailaram seus voos, cantando seus hinos...





E o menino negro não entrou na roda.



«Venha cá, pretinho, venha cá brincar»


-- disse um dos meninos com seu ar feliz.


A mamã, zelosa, logo fez reparo;


o menino branco já não quis, não quis...





E o menino negro não entrou na roda.



O menino negro não entrou na roda


das crianças brancas. Desolado, absorto,


ficou só, parado com olhar de cego,


ficou só, calado com voz de morto.





Geraldo Bessa Victor (1917-1990), poeta de Angola


Autonomia

Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia. quão longe delas nos achamos quando vivemos a impunidade dos que matam meninos nas ruas, dos que assassinam camponeses que lutam por seus direitos, dos que discriminam os negros, dos que inferiorizam as mulheres. Quão ausentes da democracia se acham os que queimam igrejas de negros porque, certamente, negros não têm alma. Negros não rezam. Com sua negritude os negros sujam a branquitude das orações...A mim me dá pena e não raiva, quando vejo a arrogância com que a branquitude de sociedades em que faz isso, em que queimam igrejas de negros, se apresenta como pedagoga da democracia. Pensar e fazer errado, pelo visto, não têm mesmo nada a ver com a humildade que o pensar certo exige. Não têm nada que ver com o bom senso que regula nossos exageros e evita as nossas caminhadas até o ridículo e a insensatez." ( fragmento do livro Pedagogia da autonomia - Paulo Freire pág 36)